Vigilância jornalística faz falta

Vivemos numa sociedade bárbara e decadente que não sabe o que é civilização

Imagem construída com suporte do BitsStrip 
Homem negro com terno azul caído na calçada gritando: Pega ladrão!, enquanto homem braco e barbudo com expressão maligna foge correndo. Ao fundo se vê uma cerca de madeira.Enquanto muitos decretam o fim do jornalismo, eu percebo que a necessidade deste ainda é muito forte para todos nós. Sem uma mídia que cobre e aponte os erros, o poder público dificilmente fará algum esforço no sentido de melhorar a prestação de serviço. A informação confiável ainda é artigo caro. Deixa eu contar uma história para ilustrar o que eu estou dizendo.

Meu primo foi assaltado no último sábado, dia 26, nas proximidades da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. Ele estava saindo do Terminal Parque D. Pedro II e caminhava em direção à Santa Ifigênia. Carregava uma mochila com seu notebook – recém comprado, diga-se de passagem – e o smartphone em uma das mãos. Havia acabado de atender uma ligação e, antes que pudesse guardar o aparelho, foi empurrado por um homem enquanto outro arrastava sua mochila e seu celular. Ambos os ladrões saíram correndo e desapareceram no período de tempo em que ele tentava entender o que estava acontecendo.

Antes que comecem os argumentos culpando a vítima é preciso lembrar que qualquer um de nós está sujeito a esse tipo de acontecimento. É muito fácil bradar táticas de segurança depois do acontecido, mas a verdade é que nada nos protege integralmente de um ataque desse tipo.

Meu primo retornou para casa destruído psicologicamente. O sentimento de impotência deixa qualquer um de nós desnorteado. Fui com ele até uma delegacia de polícia para prestar queixa sobre o ocorrido. Não esperávamos que algo efetivo fosse feito. Não tínhamos essa ilusão. Mas, qual não foi a minha surpresa ao ouvir do policial que deveríamos fazer o boletim de ocorrência via internet. Eles, os policiais, nada poderiam fazer para nos ajudar. Nem mesmo o consolo psicológico de prestarmos uma queixa.

Tudo bem. Voltemos para casa e prestemos essa queixa via internet. Bem, fizemos isso, mas o site da Polícia Civil do Estado de São Paulo recomenda que se procure uma delegacia perto da sua casa.

Fiquei refletindo sobre isso: o policial nos manda tentar pelo site, o site nos manda procurar um posto de polícia. Ao que parece, o crime compensa. A impunidade é garantida. Como eu já disse antes, não esperávamos que a Polícia tomasse alguma providência sobre esse caso específico, mas fomos prestar queixa como forma de exercer a cidadania. Explico: se houver uma mapa estatístico que delineie as áreas de maior periculosidade, será mais fácil para o Estado realocar suas tropas. Será mais fácil saber o que procurar e onde procurar. Mas parece que a própria Polícia anda desiludida. Não há o menor esforço para se fingir que algo será feito. Não há o menor esforço para definir onde vigiar.

Sem querer ser dramático, mas, ficou claro para mim que o Estado não apenas falha em garantir a nossa segurança, ele nem se esforça para fingir que algo está sendo feito. Só quando a mídia caí em cima e toda a sociedade começa a falar sobre o assunto é que alguma atitude é tomada. Se não me engano foi Lévi Strauss quem disse que o Brasil foi da barbárie à decadência, sem passar pelo período civilizatório.

Parece que ele estava certo.

José Fagner Alves Santos

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